FENÔMENOS EXTRA-NORMAIS DE CONHECIMENTO

 

O PROBLEMA – Uma pergunta se impõe pelo seu interesse prático. Será que os sentidos podem captar o pensamento de outra pessoa? Diretamente, é claro que não, porque o pensamento em si é algo imaterial, que escapa aos sentidos. Mas, indiretamente, não poderá ser captado o pensamento? Esta pergunta, de enorme transcendência, pode substituir-se por esta outra: o pensamento humano se traduz em algum sinal fisiológico, externo, embora mínimo? Se assim for, logo aparece a possibilidade de que por hiperestesia se possa indiretamente captar o pensamento humano…
Tomamos a palavra “pensamento” em representação de todos os atos psíquicos: pensamentos, sentimentos, lembranças, desejos…

Pensamos até com os cabelos! François Suliny, autor do “best seller” “O pedestre de Stalingrado”, na 2ª Guerra Mundial,  sob o bombardeio… ficou com todos os cabelos brancos. Numa noite! (Descarga  de telergia parapsicológica, pois os cabelos são células mortas, produto de excreção).

OS PRIMEIROS PASSOS DA INVESTIGAÇÃO – A descoberta científica dos movimentos involuntários e inconscientes correspondentes às idéias foi acolhida na ciência com grande alvoroço. Foi em 1853 que “Le Journal des Débats” publicava uma carta do Dr. Chevreul para o Dr. Ampère sobre o assunto. A carta já tinha sido publicada 20 anos antes na “Revue des Deux Mondes”, mas não teve a devida repercussão entre os especialistas. E o assunto da carta ainda se referia a umas experiências feitas pelo autor, Chevreul, outros 20 anos antes, em 1813.

Só em 1853, com a publicação da carta em “Le Journal des Débats”, dar-se-ia a máxima atenção ao assunto por trazer grande luz sobre as acaloradas discussões de então a propósito da varinha adivinha, pêndulo do radiestesista, etc. , e especialmente das mesas girantes que o espiritismo nascente espalhava por toda parte.

Na famosa carta, Chevreul descrevia a Ampère as experiências por ele realizadas, e concluía:
“O pensamento duma ação a produzir pode mover nossos músculos sem que tenhamos nem a vontade nem o conhecimento destes movimentos”.
Pouco depois, com novos estudos, Chevreul publica uma monografia.

Como não é raro que aconteça, descobriu-se o que já estava descoberto dois séculos antes, embora ninguém ligasse para as observações e experiências que se julgaram de pouca transcendência prática, publicadas em 1646 pelo Pe. Atanásio Kircher, S. J., em Colônia, e pouco depois, em 1654, em Roma.
Após a Segunda publicação da carta de Chevreul a Ampère, a ciência interessou-se com entusiasmos pela descoberta. No mesmo ano, 1853, Arago dissertou sobre os movimentos involuntários e inconscientes na “Academie de Sciences” da Paris, e Faraday na “Society Regal” de Londres. Logo apareceram as publicações de Babinet na “Revue de Deux Mondes” e do Pe. Moigno em “Cosmos”. Por fim, Pierre Janet, em 1855, publicou os resultados das suas investigações, com o que ficou suficientemente estabelecido e conhecido o fenômeno dos movimentos involuntários e inconscientes.

Recentemente, as experiências de Pavlov sobre os tão conhecidos reflexos incondicionados e condicionados aprofundaram e explicaram os automatismos no seu aspecto de movimentos involuntários e inconscientes em resposta a “sinais” externos, ou seja, em definitivo, em resposta as idéias e imagens conscientes ou inconscientes. Um interessante estudo sobre os movimentos inconscientes foi realizado por Jung.

Há, pois, movimentos, ações, sinais mínimos correspondendo às nossas idéias, ao nossos sentimentos, etc., sem que tenhamos vontade nem consciência de que os fazemos.

RELAÇÃO ENTRE IDÉIA E MOVIMENTOS INCONSCIENTES – Quantas idéias se refletem em movimentos externos?
Em algumas pessoas mais imaginativas e impulsivas, há movimentos reflexos das idéias sumamente amplos. “Um cego os veria”, poderíamos dizer.
Mas do ponto de vista da “adivinhação” do pensamento não são estes sinais os que mais nos interessam, pois a “adivinhação” não teria mérito. Queremos saber se existem outros sinais mais sutis, só perceptíveis, quando muito, por hiperestesia.

Já em 1908, Ernest Naville defendia:
“Penso que todo fenômeno psíquico, de qualquer ordem que seja , tem seu correspondente fisiológico”.

Evidentemente, essa correspondência fisiológica tem que ser mínima, pois não se percebe à primeira vista.
Em 1929, Charles Baudoin, diretor do “Instituto Internacional de Psicagogia”, de Genebra, descobria o modo de ampliar os movimentos reflexos das idéias, a fim de fazê-los perceptíveis. Partindo das experiências antes aludidas de Ampère e Chevreul, instituiu uma série de experiências novas altamente demonstrativas.

Eis uma destas experiências destinada a aumentar os movimentos inconscientes de modo que sejam perceptíveis:
Sobre uma folha de papel traça-se um círculo, e cortando-o, duas linhas perpendiculares entre si. O sujeito da experimentação mantém sobre o círculo um pêndulo não excessivamente pesado, segurando-o pelo extremo do cabo com as pontas dos dedos.

Nesta posição, o sujeito pensa em qualquer dos desenhos que há sobre o papel: o círculo, uma das linhas ou a outra perpendicular à primeira. Suponhamos que pensa no círculo, ou melhor, que pensa que o pêndulo se movimenta em círculo, da direita para a esquerda. O sujeito não deve fazer nada, conscientemente, para mover o pêndulo. Não obstante, após alguns segundos, muito poucos, se o pêndulo é das devidas dimensões e o sujeito não está mudando continuamente de pensamento, veremos que o pêndulo está oscilando em círculo, da direita para a esquerda. A oscilação irá aumentando cada vez mais em amplitude.

Estando o pêndulo em pleno movimento, se o sujeito muda de pensamento, escolhendo agora, por exemplo, uma das retas perpendiculares entre si, o pêndulo começará a variar de direção, até seguir perfeitamente a linha pensada. Se pensa depois na outra linha, o pêndulo se acomodará docilmente ao pensamento.

Experiências de outros tipos, às vezes engenhosíssimas, são muito numerosas, demonstrando plenamente a realidade dos reflexos inconscientes e involuntários, como tradução fisiológica das idéias e imagens. Escreve o especialista da Enciclopédia “Espasa”:
“A realidade do movimentos inconscientes correspondente a todos os atos internos ou de consciência deve ser admitida por todos, pois tem sido muito bem estudada”.

NÃO SÓ A ALMA PENSA, MAS TAMBÉM O CORPO – Tão íntima é a relação entre a imagem mental e o reflexo fisiológico “visível” externo, que Tassy pode escrever que a “imagem e sua expressão são um só fenômeno”.
A tal ponto são “um só fenômeno” o ato da consciência e a sua expressão que não é só o ato de consciência que provoca a “mímica” externa, mas também dá-se o inverso: a “mímica”, o gesto, a atitude, etc. tendem a provocar a idéia, a imagem, o sentimento… Ou melhor, provoca-os no inconsciente e daí tende a surgir no consciente.

O prestigioso parapsicólogo Dr. Gerard Grasset tem um interessante e extenso artigo sobre o tema “Os que choram porque estão tristes e os que estão tristes porque choram”.

Dugald Stewart escreveu a passagem: “Se damos à nossa fisionomia uma expressão violenta acompanhada de gestos análogos, sentiremos em algum grau a emoção correspondente à expressão artificial imprimida ás nossas feições, do mesmo modo que toda emoção da alma produz um efeito sensível sobre o corpo”.

Quando Campanella, célebre filósofo e fisionomista, queria saber o que se passava no espírito de outra pessoa, observava-a atentamente com a sua capacidade técnica e experimental e procurava imitar ao máximo em si próprio a atitude e fisionomia dela. Então, analisando seus próprios sentimentos deduzia os da outra pessoa.
São Francisco de Sales e Santo Inácio de Loyola aconselham, para os momentos de secura espiritual, adotar uma posição e atitude piedosa.

Já antigamente se conheciam a fundo certas expressões externas do pensamento inconsciente. Por exemplo:
Quando estamos “caindo” no sono, por associação de imagens é freqüente sonhar que caímos num poço ou… e todo o corpo reage!

EXTENSÃO DA TRADUÇÃO FISIOLÓGICA DAS IDÉIAS – Em virtude das leis de associação, ao suscitar-se na mente uma idéia ou imagem qualquer, mesmo as mais abstratas, surgirão no cérebro, simultaneamente, as imagens visuais, auditivas e motoras a elas correspondentes. Estas imagens, por sua vez, porão em movimento, embora normalmente isto seja imperceptível, os músculos da fonação, da ação, da mímica e todos os músculos que concorrem ao complicado mecanismo da linguagem falada e escrita em determinadas circunstâncias. (Eis o fundamento da psicografia, fenômeno tão cacarejado pelos espíritas, apesar de ser um fenômeno tão singelo e natural).

Todos estes movimentos são de tal maneira característicos das diversas idéias, que constituem como que uma linguagem subterrânea, mínima, mas perfeita, e que acompanha todas as representações mentais.

Tão inseparável é esta tradução fisiológica, também externa, que Strucker tentou demonstrar experimentalmente que “é impossível ter a representação mental sequer de uma só letra, sem que se tenha simultaneamente um movimento nos músculos que servem para articular essa letra, e não só os músculos da fonação ou outros diretamente interessados, mas todos os músculos do organismo”, participarão de alguma maneira na modificação.
Eis uma demonstração, por exemplo, do movimento dos órgãos da fonação, ou melhor, da emissão muito tênue das palavras internas com que pensamos:
Os doutores Lehmann, diretor do laboratório de Psicofísica, e seu colega, C. Hansen, ambos da Universidade de Copenhague, colocaram frente a frente dois grandes espelhos côncavos metálicos a uma distância de dois metros um do outro. No foco de um desses espelhos uma pessoa punha a boca enquanto pensava alguma coisa, e no foco do outro espelho outra pessoa colocava o ouvido. As experiências foram feitas de três maneiras diferentes: boca semifechada, quase fechada e cerrada completamente no indivíduo que pensa, operando-se sempre a respiração pelo nariz.

Os resultados obtidos foram equivalentes nos três tipos de experiências, havendo só 25% de fracassos completos; fracassos que podem explicar-se pelo fato de não tratar-se, evidentemente, de sensitivos extraordinários. A pessoa que colocava o ouvido no foco de um dos espelhos ouvia o que pensava a outra pessoa que estava colocada no foco do outro espelho.

Houve, pois, articulação de palavras correspondentes aos pensamentos, fossem estes coisas abstratas ou concretas, imagens, números, etc., apesar de que não houve movimento nenhum visível externamente. (Sem espelhos, por hiperestesia inconsciente, todos captariam aquelas palavras pronunciadas inconscientemente pela pessoa pensante; mas só nos sensitivos o captado subiria ao consciente). A análise acústica do fenômeno revelou haver redução e alteração das consoantes como sucede na ventriloquia. Os sons, pois, provinham da laringe, principalmente, pois não excluímos outros sinais. São movimentos reflexos involuntários e irreprimíveis.

O movimento dos órgãos da fonação foi também constatado de outras maneiras, p. ex. com a análise de reflexos luminosos.
Devemos citar as numerosíssimas experiências do Dr. Calligaris, professor de Neuropatologia da Universidade de Roma. Numa série de livros por ele publicados aparece a relação delas. Por essas pesquisas, observou como todo ato psíquico, consciente, consciente ou inconsciente, normal, extra-normal ou paranormal, tem seu reflexo inclusive epidérmico, especialmente em determinadas zonas particulares próprias para tal ato psíquico, zonas que ele chamou “placas” ou “campos”. As experiências são numerosíssimas.

Este fato viria a confirmar, inclusive elevando-o a alta potência, o que já antes afirmava o Dr. Kleuder: “Está fora de toda dúvida que a pele é um importante órgão de expressão, comparável aos olhos na expressão das emoções”. Ficamos vermelhos, pálidos…

Outros tipos de “emissões” foram também observados e demonstrados. Mas basta o já dito. E provavelmente há “emissões” que ainda desconhecemos…
A Parapsicologia formula a existência e extensão da expressão inconsciente segundo a Lei de Bain: “Todo ato psíquico determina um reflexo fisiológico (suponhamos, primeiro no cérebro) e esse reflexo se irradia por todo o corpo e cada uma de suas partes.”

(Este artigo No. 2 é, como sugeríamos no inicio, uma introdução necessária para a compreensão dos fenômenos Cumberlandismo e HIP, dos que falaremos nos dois próximos artigos desta série).

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