OS MELHORES NÃO SÃO BONS!
No artigo anterior (Espíritas um mínimo de reflexão) vimos que as mensagens do espiritismo, se não fossem meramente oriundas de divisão da personalidade!, em todo caso não podem proceder de espíritos bons, porque estariam se mostrando como mentirosos, enganadores, falsários.
Esse mesmo proceder de disfarçar-se com nomes que não lhes pertencem, proceder que Allan Kardec atribui aos “espíritos superiores” (?!), em outro livro,”O livro dos espíritos”, o julga próprio de espíritos inferiores:
“Um fato demonstrado pela observação e confirmado pelos próprios espíritos (superiores, ou inferiores disfarçados?) é que os espíritos inferiores muitas vezes usurpam nomes conhecidos e respeitados. Quem pode, pois, afirmar que os que dizem ter sido, por exemplo, Sócrates, Júlio César, Carlos Magno, Fenelon, Napoleão, Washington etc. tenham realmente animado essas personagens? (..) Como se lhes pode comprovar a identidade? Semelhante prova é, de fato, bem difícil de se produzir”.
Na realidade, quem não é espírita fanático sabe que quem diz ser Sócrates, Júlio César, Carlos Magno etc. é simplesmente um louco.
Só um espírita pode duvidar… Tal dúvida, aliás, contradiz sem dúvida outra hipótese do espiritismo, a reencarnação!
Mas o que interessa aqui é que Kardec considera que usurpar nomes é comportamento próprio de espíritos inferiores. Logicamente. Aqui tem razão!
Entre os pesquisadores da metapsíquica, uma das personificações ou prosopopéias do inconsciente melhor estudada foi Phinuit. Os espíritas consideram-no “o mais acabadamente espírito bom”. Era o “espírito guia” da provavelmente melhor dotada de fenômenos de conhecimento, Eleonora Piper.
“Houve sessões nas quais todas as perguntas e todas as proposições formuladas eram verdadeiras”.
Em outras, porém, todos os conhecimentos do “espírito de luz” Phinuit esvaziavam-se e perdiam-se em astúcias e simulações, ele “não manifestava o menor conhecimento real e limitava-se a (…) respostas formuladas ao acaso (…), generalidades vagas (…) Phinuit pretendia estar sempre em comunicação com os outros espíritos (…), e logo mais suas lembranças confundiam-se (…), terminava em incoerências (…), comunicações procedentes de espíritos de extraterrestres (…) Muitos defeitos e muitas incoerências”.
Assim o garante nada menos que seu grande pesquisador Frederico Myers.
Quem poderia confiar em Phinuit? Como é que os líderes do espiritismo tanto o exaltam?
INDIGNO DE ESPÍRITOS DIGNOS
É inadmissível que pessoas que em vida tenham sido eminentemente respeitáveis, no além estejam à disposição de curiosos, ou se misturem em ambientes escuros e agitados, ou se degradem a golpear ou fazer girar uma mesa ou empurrar um copo etc.
“Se nossos defuntos, ao menos os respeitáveis, pudessem comunicar-se conosco, encontrariam um meio mais digno”.
Assim conclui Enrico Morselli após as pesquisas nada menos que com a mais famosa de fenômenos de efeitos físicos, Eusápia Palladino.
“Mas é possível que o grande mistério da morte, se reduza a uma comédia? (…) Quando morrer, deverei pôr-me à disposição de um médium e percorrer o mundo para levantar cadeiras de sob os assistentes e golpear uma mesinha? Não acredito porque é absurdo, porque é ímpio”, conclui outro grande pesquisador, Gaetano Negri. É evidente. Lamentável a mentalidade dos “mestres” espíritas.
PREJUDICIAL A “LEI DA AFINIDADE”
Segundo os dirigentes espíritas, repetido nas mais diversas ocasiões, os espíritos são atraídos pela igualdade ou maior semelhança entre eles e o ambiente que os evoca. Afinidade moral, cultural, de desenvolvimento perispIrÍtico (!?) etc.
De acordo com esta lei, os “desencarnados” que se comunicariam com os médiuns só podem ser
— os mais incultos: não se celebram sessões de espiritismo nos congressos de prêmios Nobel nem nas universidades.
— Os mais amorais: não se celebram sessões de espiritismo nos conventos, nos mosteiros, nas santas casas de misericórdia, nos hospitais da madre Teresa de Calcutá na Índia, ou nos Asilos da Irmã Dulce no Brasil, nas organizações internacionais da Cruz Vermelha, etc.
— Os menos desenvolvidos: porque os “espíritos de luz” estariam muito distantes desta Terra de castigo (?!), e seu persipírito (?!) teria de ser o mais grosseiro, dado que o perispírito sujeito ao corpo mortal no planeta Terra seria dos mais baixos da escala de desenvolvimento. Tudo de acordo com as leis espíritas. Ernesto Bozzano afirma como consenso entre todos os mestres do espiritismo:
“Confirma-se tudo o que, há muito tempo, já se havia assinalado com relação às comunicações mediúnicas, isto é, que os espíritos que se comunicam, quando se acham imersos na ‘aura’ dos médiuns, ficam em condições análogas às dos pacientes hipnóticos e se tornam, em conseqüência, sugestionáveis, sofrendo notável diminuição de suas faculdades mnemônicas. Isto dissipa muitas dúvidas teóricas”.
É a lei da afinidade que atrai os espíritos apegados à terra; e mesmo que na “rede caísse” algum espírito superior, pela influência da lei da afinidade, logo se adaptaria ao baixo nível.
“isto dissipa muitas dúvidas teóricas”. Pretende safar-se de tantas contradições, erros, bobagens e mesmo grosseiras e imoralidades facilmente misturadas nas mensagens atribuídas aos mais altos espíritos superiores. Nem percebe que assim acaba com os espíritos superiores. São simples seres hipnotizados e sugestionáveis à mercê e no nível dos médiuns…! Logicamente, se atraísse algum espírito, seria o das pessoas vivas deste mundo (telepatia), pois são elas sem dúvida as que mais se assemelham aos evocadores deste mundo.
Ou, na realidade, o próprio inconsciente do médium (com ou sem telepatia). Porque em questão de afinidade nenhum outro espírito pode estar tão perto como uma parte complementar do próprio “eu” do médium. E dado que se tratava de uma parte da própria pessoa, são pessoas com divisão da personalidade, desequilibradas. Segundo os espíritas, seriam espíritos grosseiros.
Outra boneca. Feita de trigo. Para garantir as boas colheitas!: “Os semelhantes se atraem”!
E A OUTRA LEI?
Deve-se levar em consideração, aliás, que embora as partes do psiquismo de uma mesma pessoa
sejam sem dúvida da mesma natureza, do mesmo “perispírito” (?!), da mesma estrutura, da mesma substância…, a divisão da personalidade pode ser por “cristalização” das “partículas” mais díspares entre si, ocasionando grupos complementares ou opostos. Junto à lei da afinidade, deve constar também a lei da atração dos opostos. Nas manifestações espiritóides pode acontecer que a parte inconsciente que se manifesta seja precisamente a oposta à personalidade oficial do médium.
NÂO PODEM SER, AO MESMO TEMPO, BONS E MAUS
Allan Kardec escrevia convicto em “O livro dos espíritos” :
“A linguagem dos espíritos superiores é constantemente digna, nobre (…) Sua presença afasta os espíritos inferiores”.
Foi a experiência que lhe ensinou mais tarde que a realidade é muito diferente? (o inconsciente mistura o bom e o mau). Ou é só mais uma de tantissimas contradições de Kardec, dado que na realidade só pretendia confundir? Então “os espíritos superiores” entraram em contradição: Afirmam em “O livro dos médiuns” que não afastam com sua presença os espíritos inferiores, mas que permanecem, uns e outros, continuamente misturados. Mesmo tendo dito:
“Os bons e os maus espíritos não andam juntos”, poucos parágrafos depois se contradiz e deixa escapar um “pela facilidade com que os maus espíritos se intrometem nas comunicações” (dos bons espíritos).
Imediatamente, contra a afirmação de que a “presença (dos bons espíritos) afasta os espíritos inferiores”, nova contradição pouquíssimas linhas depois:
“Quanto piores são os espíritos, mais obstinados se mostram e muitas vezes resistem a todas as injunções”.
Isto é, os que estariam mais ligados à Terra, os mais numerosos, os espíritos verdadeiramente maus, muito maus, os piores, não são afastados pelos espíritos superiores!!
O “CONTROLE”
Mesmo o ofício ou a pretensa existência do “espírito guia” ou “controle” das sessões foi claramente subterfúgio inventado tardiamente. Inventado pelo inconsciente e pelos líderes modernos do espiritismo. Para defender-se dos erros, tolices, contradições etc. freqüentemente misturados nas manifestações do inconsciente -ou intromissões dos “espíritos inferiores”!- sendo que os fundadores do espiritismo -os primeiros mestres e “espíritos superiores”- nada sabiam de “espíritos guias”.
Seriam médiuns entre os médiuns da Terra e os espíritos do além. Mas sobre esses “espíritos médiuns” logo apareceram outros novos “espíritos médiuns” ou espíritos guias”, e logo outros e assim numa série interminável que mais do que mostrar organização, provaria e confirmaria a total anarquia dos “espíritos” (não há espírito humano sem corpo material ou ressuscitado), totalmente indigna.
É desse anárquico além que os espíritas pretendem receber a doutrina para endireitar este mundo terrestre!
Todas as religiões, ao menos as religiões principais e mais desenvolvidas, separam no além os bons dos maus. A mistura que o espiritismo faz, mostra seu baixo calão.
ESSA AMALGAMA É BEM CONHECIDA
A psicologia e a parapsicologia, com seus respectivos estudos sobre o inconsciente, explicam esta mistura do bem e do mal. Sem recurso a esse amálgama do espíritos. Onde os bons e maus viveriam tão indissoluvelmente misturados, que um “espírito de luz” se converte -ou é substituído- de repente num “espírito inferior”.
Compreende-se perfeitamente pela irresponsabilidade própria do inconsciente. Nele se arquiva o mais sublime e o mais baixo. Ele capta também extranormal e paranormalmente em pessoas presentes e ausentes o mais sublime e o mais baixo. Nele o mais sublime pode justapor-se ao mais baixo por qualquer associação de idéias, e inclusive por contraste. É corriqueiro e próprio das manifestações nos sonhos, na hipnose, após a injeção de drogas, ou em qualquer outro estado alterado de consciência.
Quem foi meu professor, um grande psicólogo e por muitos anos professor de psicologia, Fernando Maria Palmés S.J., que também era filósofo, teólogo e parapsicólogo, escrevia:
“Porque (…) em boa razão não tem cabimento a possibilidade de atribuir semelhantes fenômenos às almas dos defuntos (…), que de tal maneira estejam à disposição dos homens que praticam as superstições do espiritismo, a ponto de lhes executarem as ordens e lhes satisfazerem a vã curiosidade e as ânsias do maravilhoso, dando lugar a exibições que freqüentemente são pueris, ridículas e, não poucas vezes, também grosseiras e imorais (…), que os próprios espíritas nos descrevem” (…)
“Mistura ridícula das verdades cristãs com os erros mais crassos; a moral mais pervertida, junto com (…) máximas boas, ou indiferentes (…); mentiras e contradições em que quase sempre incorrem os médiuns (…) E muitas outras particularidades que ainda se poderiam notar na fenomenologia aduzida pelos próprios espíritas” (…)
“Sobretudo em razão do desequilíbrio mental que em maior ou menor escala padecem quantos se dedicam assiduamente às práticas espíritas, especialmente os que desempenham o papel de médium”.
O curioso (algo surpreende no espiritismo?) é que o próprio Allan Kardec, em nova contradição, reconhece que não se trata de mistura de espíritos bons e maus, senão de influência do inconsciente:
Os espíritos superiores (?) respondem afirmativamente à pergunta de se “as comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio espírito encarnado do médium (…). É fora de dúvida que o espírito do médium pode agir por si mesmo”. Precisamente por estar “no estado de sonambulismo ou de êxtase, é que principalmente o espírito do médium se manifesta, porque não se encontra mais livre. No estado normal é mais difícil”.
Tais interferências do inconsciente do próprio médium podem ser superiores aos seus conhecimentos conscientes:
“Poderá ele haurir nas profundezas do seu próprio eu as idéias que parecem fora do alcance da sua instrução. Isso acontece freqüentemente no estado de crise sonambúlica, ou extática”.
Nos sonhos, no estado crepuscular, em todos os estados alterados de consciência, não só se misturam manifestações as mais díspares do arquivo normal e patológico do inconsciente, mas também podem misturar-se dados parapsicologicamente adquiridos.
COMO EXEMPLO O CASO GLIKA
Entre inumeráveis, eis um exemplo de mentira do inconsciente provocada pela adivinhação parapsicológica. Nenhuma necessidade de inventar intervenções de espíritos mentirosos. O exemplo é contado por um pioneiro da parapsicologia, Teodoro Flournoy, grande psicólogo e parapsicólogo, que já no início do século XIX mostrava quanto desconhecimento supõe a explicação (?) espírita:
Quatro pessoas interrogam uma mesa, uma delas é médium, Glika. Com movimentos e golpes no chão, a mesa, sob a mão dos presentes (paracinesia), energicamente comunica: “Bertin, Bertin, meu amigo! Alexandre morreu”.
Alexandre G., de 21 anos, está internado há mais de vinte anos num asilo. O Prof. Bertin (pseudônimo), culto, de uns 60 anos, é seu primo… e herdeiro. Várias vezes Bertin pensou se não seria melhor que Alexandre fosse “descansar” e que do sanatório não lhe enviassem mensalmente as contas a pagar. Ficou contentíssimo com a mensagem…
Mais uma vez um amigo, a pedido do Sr. Bertin, foi verificar o estado de saúde de Alexandre: “Lamentavelmente” estava em perfeita saúde física.
O “espírito superior” de repente trocaria a atenção com seu “querido amigo” Bertin, das anteriores comunicações verdadeiras, por um grosseiro engano?
Ou de repente, não obstante todo o cuidado do “espírito guia”, misturou-se um espírito mentiroso?
Acrescenta Flournoy:
“A mesa mentiu, sim, tratando-se da realidade material dos fatos. Mas ela traduziu o pensamento secreto, o desejo latente e obstinado do Sr. Bertin”.
A adivinhação inconsciente da médium profissional, simples HIE (Hiperestesia sobre o Inconsciente Excitado), um dos mais fáceis e freqüentes fenômenos parapsicológicos de conhecimento, explica perfeitamente os fatos sem esse recurso absurdo de intervenções cronométricas ou simultâneas de espíritos bons, maus e guias inúteis.
É sabido -embora os “mestres” espíritas prefiram ignorar também isso- que o inconsciente, e concretamente as faculdades parapsicológicas, é caprichoso e irregular.
Um dos maiores mestres da psicologia, filosofia e parapsicologia, William James, já destacava a respeito de Eleonora Piper o motivo psicológico pelo qual o inconsciente inventou essa briga e a interferência de espíritos:
É para “explicar de maneira plausível tantas repetições, hesitações, inconseqüências, frases sem sentido, tantas apalpadelas e sondagens manifestas e falsas pistas. Daí tanto recurso a poderes inexistentes (interferências de espíritos inferiores entre os superiores e guias), quando na realidade é obediência à sugestão”.
A mesma coisa acontece com as manifestações do inconsciente fora do ambiente supersticioso do espiritismo, demonologia, ou entre pentecostais, carismáticos etc.
ENTÃO SERIAM SÓ ESPÍRITOS INFERIORES?
É preciso partir do pressuposto de que o espiritismo se fundamenta numa comunicação pretensamente normal, habitual, freqüente dos espíritos. Não se poderia falar em espiritismo se houvesse só algumas esporádicas manifestações de alguns espíritos.
Lourenço Faget, por exemplo, em entrevista oficial aos jornalistas como presidente do Congresso Internacional de Espiritismo, de Liége, afirma que um dos pilares fundamentais do espiritismo é “a possibilidade das comunicações normais, note-se que digo normais e não acidentais, entre os mortos e vivos, entre os desencarnados e os encarnados”.
Ora, em todo e qualquer grupo onde há manifestações espiritóides normais ou freqüentes, sempre há manifestações atribuídas aos “espíritos inferiores”. Um dos mestres, percursores ou fundadores do espiritismo moderno, Staiton Moses, num livro que alcançou centenas de edições entre os espíritas, afirma a respeito das entidades que se manifestam em toda parte, em todos os centros:
“Muitas dessas entidades são seres maléficos nos seus gostos e impuros nos seus costumes, que estão reunidos em bandos sob o comando da inteligência mais maléfica, para causar dano, para obstacular nossa obra”.
No espiritismo não são os espíritos bons que se manifestam. Também não são conjuntamente espíritos bons e maus. Restaria que fossem só espíritos maus, vestidos às vezes com peles de ovelha.
Mas logo caindo-lhes a máscara! Allan Kardec escrevia:
“Quanto aos espíritos que se enfeitam com nomes respeitáveis, eles se traem logo pela sua linguagem e suas máximas”.
Os “mestres” do espiritismo anglo-saxão, em geral, concordam com Oliver Lodge. Nada menos que Oliver Lodge, tão louvado pelos espíritas de todo o mundo. Lodge afirma que se fundamenta em abundantes revelações espíritas (?), confirmadas pelas do espírito (?) do seu próprio filho Raymond. Pois bem, Lodge garante que a vida no além se prolonga indefinidamente, levando os espíritos a subir sempre mais alto na escada evolutiva, afastando-se cada vez mais da terra e ficando cada vez mais difícil a comunicação espírita e mesmo impossível para os espíritos superiores. Só os espíritos mais grosseiros, mais apegados às misérias desta Terra no início da purificação é que teriam possibilidade e mesmo facilidade de se comunicar.
Kardec e os “mestres” do espiritismo latino concordam em que os espíritos desenvolvidos se afastam da Terra.
Para os “mestres” do espiritismo anglo-saxão, os espíritos inferiores, em grande número, estão apegados à Terra. Precisamente os espíritos mais grosseiros são os mais fortes. Se algum “debilitado” e “purificado” espírito superior pretende imiscuir-se no ambiente da Terra e competir com os espíritos grosseiros para se comunicar com um vivo, nem luta haveria. Os espíritos grosseiros venceriam com a máxima facilidade.
E no além haveria total anarquia. Ninguém estabeleceria ordem! Muito menos na Terra: Uma revista de máximo prestígio entre os espíritas de todo o mundo “Le Monde Psychique”, transcreve a doutrina concordante:
“No mundo dos espíritos, reina a lei do mais forte. É um estado de anarquia. Se as sessões não são instrutivas, é porque um espírito malvado não abandona a mesa e deita-se sobre ela, de uma sessão para outra, de maneira que os espíritos que desejarem entrar em comunicação séria com os membros do círculo não podem se aproximar”.
A maioria dos ocultistas, seguindo seu “grande mestre” Papus, modificou a tradicional definição esotérica de “elementares”, terminando quase por identificá-los com espíritos de mortos.
Pois bem, o que interessa agora, conclui o grande especialista René Guénon no seu “L’erreur spirite”: segundo os ocultistas e teósofos, os espíritos “precisamente dos bêbados, dos feiticeiros e dos criminosos, como também dos falecidos em morte violenta e dos suicidas (…), os de natureza mais inferior são os que com gosto se manifestam nas sessões espíritas (…) É mesmo a esses seres inferiores aos quais os teósofos reservam o nome de ‘elementares’ (…) Haveria que se afastar plenamente das práticas do espiritismo, e é isso efetivamente o que recomendam os dirigentes do ocultismo e mormente do teosofismo”.
E o curioso é que Kardec e os “mestres” espíritas concordam com todas as premissas: muito numerosos, apegados, mais grosseiros, mais fortes, anarquia…! Contraditoriamente, porém, negam a conseqüência! Na realidade, segundo a lógica, seria necessário dar plena razão aos ocultistas: os espíritos superiores não têm a mínima possibilidade de se comunicar com os vivos da Terra. Só poderiam os espíritos inferiores. Tanto mais facilidade e comunicação quanto mais inferiores!
NÃO SÃO OS ESPÍRITOS INFERIORES
Apesar de formado em ambiente do espiritismo durante anos, por fim o grande estudioso Dr. Alexander, da Universidade de Bruxelas, terminou por reconhecer:
“Perante a ingente quantidade de tolices e despropósitos que se comunicam em todos os centros de espiritismo, e considerando a quantidade de cretinos e imbecis que já morreram no mundo, estar-se-ia inclinado a aceitar a explicação das ingerências dos espíritos inferiores. Mas, tal explicação não tem base nenhuma, e para compreender que se trata de ingerências do próprio inconsciente do médium ou dos assistentes, basta considerar as grosserias que é capaz de soltar a mais fina madame quando sob os efeitos de clorofórmio. Todos os cirurgiões dão testemunho disso”.
Um exemplo… Recentemente um médico foi expulso da Sociedade de Medicina Italiana e causou escândalo entre o povo desconhecedor do inconsciente, porque contra a mais elementar ética publicou as horríveis blasfêmias que durante o delírio prévio à morte escaparam de uma alta autoridade da Igreja, modelo de piedade e amor a Deus, hoje com causa de beatificação introduzida. O episódio foi publicado em todo o mundo.
NA REALIDADE É O INCONCIENTE
Como Flournoy demonstrou de modo completamente convincente (para quem não sofreu lavagem cerebral pela mentalidade espírita), o famoso caso de Helena Smith, considerado pelos espíritas como o mais convincente de identificação, nada tem a ver nem com espíritos superiores nem com interferências de espíritos inferiores…
Tudo foi produto das qualidades, maravilhosas por certo, assim como também das frustrações e mesmo hetero-sugestões do inconsciente de Helena.
O mesmo Flournoy recolheu quatro outros casos sensacionais, os melhores possíveis de “identificação” dos espíritos. A lógica (?) espírita imediatamente garantiu tratar-se de interferência de “espíritos enganadores”.
Nada disso. O famoso psicólogo e brilhante parapsicólogo da Universidade de Gênova demonstrou com sistemática análise e verificação de cada detalhe, que nesses quatro casos como no de Helena Smith e em outros casos que cita menos detalhadamente, tratava-se de “comunicações” de pessoas completamente vivas e cheias de saúde!
Nem nos melhores casos segundo os espiritas. Nunca. O máximo que pode acontecer (pois há muitíssimos outros casos absolutamente vulgares, fictícios, truques…) é serem “comunicações” e personificações (prosopopéias) selecionadas de acordo com as tendências afetivas, evidentemente dos inconscientes dos médiuns.
CONCLUSÃO
Tomá-la-emos de Chico Xavier! Não é das menores contradições dentro do espiritismo a afirmação psicografada por Chico Xavier, “papa” do espiritismo do Brasil:
“Na existência terrena vivemos o combate das idéias e das coisas (…) A morte, todavia, transformação fundamental de todas as coisas é o sopro ciclópico de realidades absolutas, descortinando ao espírito a perspectiva imensa da ciência universal (…), a ciência ideal (…) estudando a Verdade em seus fundamentos intrínsecos”.
Só a lógica (?) espírita não percebe que esta mensagem acaba com a reencarnação, com toda a doutrina espírita em bloco…, e concretamente com as ingerências e mesmo a tal ignorância de espíritos inferiores, que o próprio espiritismo inventou como escusa.
O picante para o espiritismo é que essa afirmação de Chico Xavier está plenamente de acordo com a doutrina católica: com a morte termina a ignorância.
E de acordo com a parapsicologia: não se trata de espíritos superiores e inferiores. Trata-se de manifestações das faculdades dos vivos, “na existência terrena… no combate das idéias e das coisas”.