1. – PERGUNTA Jorge IC:
“Oi, Pe. Quevedo, eu queria esclarecer uma dúvida. Tenho 28 anos e por 3 anos freqüentei um centro espírita. Hoje não freqüento mais. Eu era ateu, mas conheci Deus e sou muito grato por isso. Hoje sou católico, indo a Missa e lendo a Bíblia. Mas vi muita coisa no centro que não sei explicar, como incorporações inclusive em mim, com mudança na voz (ecolalia é o nome em parapsicologia, psicologia e psiquiatria – Pe.Q.) Incorporações essas comigo das que não me lembro quase nada, só algum flash. O que fazíamos ali eu e os outros médiuns para conseguir as incorporações, sei que a Igreja não concorda. Mas eu vivi aquela situação e não sei explicar, mas as pessoas lá acreditam e muito. Gosto muito do seu trabalho, se possível gostaria que me dissesse algo sobre o assunto. Muito obrigado”.
2. – PERGUNTA Luciano P. L.:
“Pertenço a uma Igreja Reformada, fiz teologia há pouco tempo, possuo o seu “Antes que os Demônios Voltem”, admiro muito esse seu livro e o seu trabalho. Também já não acredito nesta questão de possessão, mas eu tenho uma dúvida, gostaria que o senhor, Pe. Quevedo, me respondesse: Por quê uma pessoa supostamente possessa, fala como se fosse outra pessoa? Por ex, um filho ‘possesso’ olha para a mãe e diz: ‘Eu vou matar seu filho’. Quê fenômeno é este? Grato pela atenção”.
3. – E MUITAS OUTRAS PERGUNTAS (e até insultos) sobre o mesmo tema
RESPOSTA GERAL
Os “mestres” espíritas não sabem que há muitos anos Charcot (e sucessores) por hipnotismo reproduziu toda classe de”incorporações”?
O tema da divisão da personalidade, quase desconhecido na época de Allan Kardec, foi posteriormente muito bem estudado. Pode-se desculpar em parte a Allan Kardec e aos pioneiros do Espiritismo… Mas não há desculpas para o fato de os “mestres” modernos do Espiritismo ainda repetir tão falso argumento fazendo caso omisso das manifestações personificadas do inconsciente.
Certos sistemas inconscientes são suficientemente ricos para separar-se da personalidade global daquela pessoa e constituírem personificações parciais anexas. A personalidade (ou personalidades) adventícia, “secundus”, forma-se de preferência com fatos e sensações descuidadas pela personalidade oficial ou “primus”.
É precisamente por isso que as manifestações das personificações do inconsciente podem parecer absolutamente estranhas ao consciente.
Pierre Janet, continuador de Charcot, marcou época com seus estudos da dissociação da personalidade global nos histéricos.
Com seus estudos da histeria desvendou o inconsciente psicológico e o mundo do automatismo (como o da psicografia, “brincadeira do copo”, locuções inconscientes, etc.).
É de Janet o mérito principal na descoberta das dissociações patológicas da personalidade.
Demonstrou a identidade das dissociações histéricas ou sonambúlicas e as personificações espíritas, demoníacas etc. Trata-se de um mundo de idéias, sentimentos, imagens etc. e automatismos do inconscientes que se apoderam bruscamente, e por certo tempo, do campo debilitado da consciência do histérico.
Sigmund Freud, além das manifestações dos histéricos, já estudadas por Janet, analisou também muitas manifestações na vida ordinária, como lapsos, ações frustradas, certos tipos de esquecimentos por motivos inconscientes, os sonhos etc.
Freud compreendeu que o inconsciente tem uma vida normal paralela à de “primus” e intervém freqüentemente na vida comum. Em mais alto grau, claro está, quando chega a constituir uma personificação independente ou “Segunda”.
A divisão entre consciente e inconsciente (ou partes do inconsciente) cobre todos os degraus da escada, desde o total desconhecimento mútuo, independência e autonomia de cada um, até a total convivência e ação simultânea.
TESTEMUNHA E ATÉ PODE INTERVIR
É o 1º degrau. Assim, por exemplo, os chamados “sonhos lúcidos”, que nos últimos anos têm interessado bastante aos parapsicólogos.
Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos” (nn. 401-402) e os “mestres” kardecistas afirmam que os sonhos, mesmo os mais comuns, são “viagens do perispírito” (?!), e revelações dos espíritos dos mortos.
Tal afirmação hoje é um retrocesso de mais de vinte séculos, pondo-se no nível de interpretações supersticiosas que consideravam os sonhos revelação dos deuses.
Hoje todos os especialistas e inclusive todas as pessoas de senso comum (não fanatizadas pela superstição) sabem que os sonhos procedem do inconsciente. São “respostas” e reações que o “eu” inconsciente dá aos inumeráveis fatores da vida cotidiana. Essas “respostas” não se limitam a imagens visuais e auditivas, com cores ou sons mais ou menos acentuados. Nos sonhos podem também ocorrer sensações odoríferas, táteis, gustativas. Podem surgir também fenômenos parapsicológicos. Durante o sonho, a sensação de realidade é total, como se o sonhante estivesse no estado consciente acordado.
Alguns sonhos são chamados “lúcidos”, porque há “consciência do inconsciente”, isto é, a pessoa que sonha está consciente de estar sonhando. E o mais interessante é que o sonhante, ao chegar à conclusão de que está sonhando, pode adquirir um certo controle sobre o desenvolvimento do sonho. O treino ajuda neste controle (o que não quer dizer que seja conveniente tal treino…: pode aumentar a cisão da personalidade).
PRESENTE SEM INTERVENÇÂO
Por exemplo em Julien, famoso psicógrafo francês, o “eu” oficial , ou “primus” estava plenamente consciente e presente ao que escrevia sob diversas personificações do inconsciente. Julien compreendia que se tratava de diversas divisões do próprio eu:
“Jamais tive a impressão de perder o controle de minha consciência no decurso das comunicações telepáticas. Esforçava-me, ao contrário, em permanecer sempre dono de minhas faculdades e jamais perder o senso crítico. Não obstante, todo o resto estava plenamente desligado do que eu sentia: tinha a impressão de um vazio voluntariamente fomentado, de uma tela mental sobre a qual as palavras se imprimiam uma a uma sem que fosse possível adivinhar o sentido da frase em formação. Em outras oportunidades, tratava-se de idéias já completas no momento em que surgiam, e só faltava formá-las rapidamente”.
“E ao mesmo tempo, para mim, era um assombro ilimitado constatar que algo de extraordinário estava acontecendo, que um verdadeiro diálogo parecia estabelecer-se entre o ‘eu’ e outros ‘eus’ (parte da própria personalidade global) inteiramente autônomos, cuja presença viva se impunha como se fosse separada”.
TESTEMUNHA IMPOTENTE
O 2º degrau na relação entre consciente e inconsciente. Presente, mas sem poder agir.
Escreve um grande pioneiro da parapsicologia e grande filósofo e teólogo, Justino Kerner:
Em alguns desses pacientes, “os olhos permanecem abertos e a consciência lúcida, mas o paciente é incapaz de resistir, mesmo com toda força da sua mente, à voz que fala nele; ele ouve a si mesmo expressar-se como se fosse outra e estranha individualidade alojada nele, mas fora de seu controle”.
Acrescenta Eschenmayer, colega de Kerner e também especialista em mística:
“A moça retém a consciência enquanto a voz fala, mas não pode evitá-lo, mesmo tentando com toda a sua vontade; ela ouvia a voz ressoar externamente como a de um indivíduo estranho, alojado dentro dela, sem que estivesse em condições de controlá-lo ou fazer qualquer coisa”.
Os espíritas, incompreensivelmente ignorando plenamente o inconsciente, classificam estes casos como mediunidade e incorporação consciente!!
Na realidade é manifestação de uma das partes “amotinadas” da única pessoa, é uma personificação de um conteúdo Divisão da personalidade inconsciente, como as “cristalizações” ao redor de diversos núcleos num líquido saturado. Como insiste o professor Oesterreich no seu excelente livro de estudo dos erradamente chamados casos de possessão demoníaca, em todos os povos e épocas, “uma análise mais exata revela que os estados mentais, aparentemente pertencentes a um segundo ‘eu’ são realmente parte do indivíduo original”
Contraprovas, inclusive muito fáceis de fazer, por exemplo com clorofórmio ou éter, mostram que não se trata de incorporação de espírito nenhum.
Algumas pessoas, aspirando a droga anestesiante, quando ainda não estão “dormindo”, mas não plenamente acordadas, falam, inclusive muito imprudentemente, sem poder evitá-lo. Sabem que estão falando sem querer falar.
O consciente ainda está presente, mas estão “possuídos” pelo próprio inconsciente. Divisão da personalidade causada pela droga.
BOIANDO, ATÉ O PRÓXIMO MERGULHO
Imaginemos o psiquismo humano como um “iceberg”. Só 1/10 do bloco de gelo emerge sobre a superfície das águas: o consciente.
Pela transparência das águas pode-se observar um pouco do submerso: o pré-consciente. Basta olhar, prestar atenção para perceber a passagem do ar pelas vias respiratórias, o contato da roupa, a umidade ambiente, os barulhinhos que chegam da rua etc., etc. Sensações que antes também tínhamos, embora sem percepção consciente da sensação pré-consciente. Basta dar atenção.
Nada aparece na superfície do que se trama e age no fundo. Acontece às vezes que uma tempestade vira o bloco de gelo. Some o consciente ou vira inconsciente, e parte do inconsciente emerge ou aparenta ser o consciente.
Acontece nessas mudanças de personalidade que uma pessoa se deita na grama, “dorme”… e “acorda” a 2.500 quilômetros de distância. Complicada viagem de ônibus, de “carona” e de trem, hospedou-se em hotéis, selecionou o cardápio de restaurantes… Quando o “iceberg” volta à posição habitual, quando “acordou”, não lembrava absolutamente nada.
Na hipnose, por exemplo -um tipo de novo mergulho, um tipo de estado alterado de consciência-, o psicólogo verifica que o inconsciente “pegou as rédeas”, “fez-se passar” como consciente.
Prova irrecusável de que é parte do mesmo “iceberg”, atividade do inconsciente da mesma pessoa. O psicólogo “mergulha” e verifica que aquelas idéias, aqueles sentimentos são na realidade outra parte do mesmo “eu”: o subconsciente.
Fazendo caso omisso da psicologia, os espíritas consideram estes casos como de “mediunidade inconsciente”.
Não são idéias ou sentimentos de um “espírito”(ponho sempre entre aspas porque não há espírito humano sem corpo material ou ressuscitado) alheio que se incorporou temporariamente e foi embora. São idéias constituintes, partes complementares do mesmo “eu”.
Jean Lhermitte, o famoso psiquiatra da Academia de Medicina de Paris, expressava-se assim no VIII Congresso Internacional de Psicologia e Religião:
“A consciência pode aparecer completamente suspensa. A pessoa transforma-se em robô, em máquina elementar. Caminha, corre (…) E a crise não deixa lembrança alguma” (…)
“Em outros casos, o automatismo se mostra mais complicado. Assim, uma das minhas doentes se admirava freqüentemente de ver, de manhã, sua mesa servida e os pratos postos sem que ela (segundo pensava) tivesse tocado nada”.
“Uma outra doente se encontrou um dia servindo a seus filhos costeletas grelhadas, com as mãos carbonizadas”.
“Um médico, durante uma ausência (da consciência), prosseguia imperturbável o exame do seu doente e pode estabelecer o diagnóstico correto. Quando recobrou a consciência, não conservava nenhuma lembrança da lição que acabava de ensinar”.
“Mais, um escultor sobre madeira, observado por Marchand, executava durante suas ausências (de consciência) trabalhos muito mais complicados que durante o estado consciente” (O inconsciente é sumamente mais inteligente que o consciente, como exporei em outra oportunidade).
Não vou entrar agora na distinção entre a inconsciência por divisão da personalidade (em que há prosopopéia: dá-se o nome ou se ‘batiza’ às partes dissociadas) e estas ausências da consciência com plena atividade inconsciente, que alguns chamaram “epilepsia psíquica”. Em nenhum dos dois casos se trata de espíritos de mortos, apesar de “não terem consciência”. É disfunção cerebral mesmo. “relações rompidas do cérebro com o pensamento” consciente na expressão de Lhermitte.
A cisão pode ser múltipla. É freqüente nesses casos que “primus” ignore, completamente e sempre, ao menos alguma dessas partes desgarradas. A personificação, “secundus”, pode ter-se feito plenamente independente, separado completamente da personalidade oficial ou “primus”.
Pode acontecer também que a parte do inconsciente, que se manifestou espontaneamente, não seja acessível à exploração do psicólogo, nem por ele controlável: o psiquismo humano é muito profundo. Nestes casos o consciente nem está presente, nem pode intervir, nem lembra.
Por exemplo, no famoso caso “As três faces de Eva”: Eva Preta, Eva Branca e Jane (caso que analisarei em outro artigo desta mesma série), Eva Preta afirmou que gozara de uma vida independente desde a infância. Muitos anos antes de irromper a dissociação da personalidade.
Os pesquisadores inicialmente pensaram que seria uma das tantas mentiras. Mas o ceticismo foi derrubado quando verificaram que “sua memória proporcionava um infindável número de evidências indiretas, pois podia, por exemplo, fazer relatos bastante fiéis das punições a que fora submetida na infância, assim como das infrações em que incorrera para ser castigada”, e “Eva Branca era absolutamente incapaz de recordar esses fatos”. Com todo rigor científico, os pesquisadores comprovaram que a palavra de Eva Branca estava acima de qualquer suspeita. Comprovaram cientificamente praticamente inesgotável de Eva Preta.
E não obstante essa aparente independência total, trata-se irrefutavelmente de duas partes divididas de uma mesma personalidade…
A mesma aparente independência encontra-se em numerosos outros casos de divisão da personalidade.
Em parapsicologia, chama-se prosopopéia a máscara que o inconsciente costuma usar ao emergir. O consciente não reconhece a parte emergente como constituinte da própria personalidade. Daí, a necessidade psicológica de pôr um nome, uma máscara.
Os elementos constitutivos de uma personalidade sugerida na hipnose e aceitos pela imaginação são passageiros. Somem no fim da sessão hipnótica, da sessão espírita etc. Dificilmente alcançam a continuidade e a emotividade necessárias para a solidificação e emancipação. A não ser com o habitual “desenvolvimento mediúnico” ou com contínuas sessões hipnóticas… Esse é um dos perigos do “desenvolvimento”… Prosopopéias inicialmente caricaturescas e até simulações mais ou menos subconscientes podem chegar a adquirir impressionante consistência. A experiência o ensinou aos espíritas, embora eles o expressem com outras palavras: Dizem que nos começos os espíritos encontram muitas dificuldades em adaptar-se ao novo instrumento, médium ou “cavalo”.
O fator emotivo ou reprimido pode ser o simples amor-próprio. O pior que pode acontecer a um hipnotizador é sugerir uma personalidade que ele julga fictícia e irrelevante, e que na realidade coincida com alguns recalques fortemente afetivos do hipnotizado. O que se pretendia que fosse uma simples prosopopéia, pode transformar-se em profunda divisão da personalidade.
Igualmente nas sessões de espiritismo: a aparentemente transitória prosopopéia de “espíritos guias” pode vir ao encontro de uma personalidade problemática. A “Pomba-Gira”, o “Exu Quebra-Tudo”, o “Zé Pelintra” etc., etc., têm originado muitos loucos. Passaram a ser perseguidos por “espíritos”, que na realidade são certas tendências recalcadas daquela pessoa.
Os “mestres” do Espiritismo na sua profunda ignorância ou fanatismo insistem muito na aparente independência das prosopopéias…
Janet já demonstrara que “a personalidade secundária às vezes se mostra muito indócil”. Inclusive “as pessoas mais sugestionáveis mostram-se capazes de resistência e de espontaneidade”, mesmo as histéricas ou durante a hipnose.
Os mais destacados casos espiritóides nem sequer igualam a aparente independência observada nos casos mais notáveis de “divisão da personalidade”. Os mais famosos casos de “divisão da personalidade” estudados -e curados pela ciência- certamente eram mesmo isso: divisões de uma única e mesma pessoa. Se um pouco os antigos, hoje não têm desculpa os “mestres” do Espiritismo.
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